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Voz de papel

Quantas vozes vossas trago debaixo do braço
Como jornal amarrotado, dobrado incessantemente?
Esmola e pão escasseiam em meus braços
e apenas inquietação escorre das minhas mãos.

Pesam-me tanto que vos trago de rastos,
pelo chão, a rastejarem pelo fosso do pensamento,
purgatório de vidas vitímas de fraude,
vitimas e culpadas de crimes destinados.

Aqueçam-se em meus pêlos arrepiados,
em pele tingida das letras impressas,
mas não procurem lenha para se queimarem,
ou fogo para vossos corpos cremarem.

Subam por mim acima, como montanha escarpada,
como gato amedrontado foge do cão,
ao cimo de telhado inclinado que o atira de lá
para o meio da rua, estendido no chão.

Se abrir os meus braços, vossa voz cairá
no vazio dos olhos quotidianos que vos ignoram
sentados no vão de escada, em parede muda
em vida que morre, e morte sempre oculta.

Comments

gisela said…
este poema é muito bom! a serio, esta fantastico, 5 estrelas. parabens

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Escrevo

Escrevo  porque não sei dizê-lo de outra maneira, porque acredito no belo e que as minhas palavras saem de mim em salto alto prontas para dançar, para em encherem o copo seduzirem, atirando frases feitas para a cama. até que nú... escrevem-se a elas prórpias no que não sei expressar sem ser com letras... E digo que escrevo e espero que me cresçam uns lábios carnudos no peito e seja saliva o que corre no coração. escrevo até ao dia em que já fale.

Um tronco da árvore Genealogica

Hoje fazes parte na minha genealogia, E daquilo que construímos por entre inundações, Prego tortos nas paredes e cimento que se perdia na humidade pungente. Nasceste virado para oeste do paraíso, Trazido por costas unilaterais, sozinhas na mistura das horas, Que em cada minuto anunciavam que irias crescer antes do tempo da gestação. Pensei para mim, que flor se criará em solo tão árido, Em semente tão pouco amada quando deitada no punhado, De terra que nos serve de morada na hora da solene criação? Podias ter sido cardo, erva ou giesta brava, Tal era a dureza da enxada que te vergava o sorriso, E que te impedia de perceber que eras mais que nada, eras amor. E hoje que és mais que flor, uma árvore, Que abrigas há sombras dos sobressaltos, antepassados e recentes transeuntes, Sei que as tuas raízes se abraçam na certeza, de que o melhor dos ventos te soprou. O teu fruto merece que sorrias, Como quando ainda em caroço te adormecia, Ao som da voz que me falta, sempre que nos toca...

Azul Sincero

Glória aos dias de azul sincero. Daquele azul tão profundo que não nos mente Suspenso em pilares de verdade Onde mesmo as nuvens pinceladas Trazem vestido manto transparente Desnudando-lhe os ossos um por um. Glória a ti, azul simultâneo.