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Showing posts from April, 2009

Roupagem

Dobro as palavras sempre na gaveta de cima. por ordem alfabética, para de manhã não perder tempo a escolher o que vou dizer nesse dia. As palavras vestem-se sem esforço, e uso-as por fora da boca, marginais, evitando que se sintam amordaçadas no cinto apertado dos dentes. Nas ruas de hoje, pessoas passeiam-se com palavras um número abaixo do seu corpo, apertadas, asfixiadas, robóticas, tentando planar sem rasgar o tecido das frases. E essas revestem-se cada vez de menos tecido, Expondo em demasia as fraquezas do corpo, sofrendo o desbaste de nocturnas florestas ocas, negras como madeira podre, queimadas em cinzas. E pior que não haver palavras em árvores, é só haverem as mesmas árvores, o mesmo oxigénio rarefeito salivado, a monotonia mental do vento que bate constante. Imagino o dia em que andaremos nus de palavras, pelo menos daquelas que nos soam mal, que são botões maiores que as casas, e que não cabem dentro de nós.