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Showing posts from February, 2008

Pertencer

Porque o vermelho nos une Em campo de batalha, Mais que marca de sangue, família e existência permanente, Constante, como marés, Foco de grandeza, nascente, crescente e hipodermicamente tatuada e presente. E se as palavras são, para nós mais que erros, ou pronúncias incorrectas, no tempo da escrita, Agradecemos a quem, nos ensinou a pegar na caneta, e nos fez assinar em consciência um vínculo com a pertença.

Jardim

Não é este o jardim que me prometeste... penso no esboço elaborado, rascunhado a mãos barrentas, e sobram pequenas cinzas, e raizes apodrecidas. Prometeste-me flores, imitadas no cheiro, plasticas às cores, imperceptíveis ao toque, Maleáveis à chuva, invisíveis às pegadas mortais dos indesejáveis amantes de petálas murchas. Porque falhou o plano, terreno, pouco imortal, divino e muito carnal, escrito em papel vegetal? Será do fertilizante, da míngua de sol, humidade relativa, subjectiva, ou do terreno perene? Não é o jardim, não. nem quintal, ou parcela, e a promessa ficou-se por relva em decomposição.

Mão Vermelha

A minha visão do amanhã é um final de almoço, sobras de pele e osso, e algum alcoól ébrio... É agora a mão esquerda Que me apoia a cabeça... No final da digestão Compulsiva das ideias Dos pratos vazios. É como se a mão direita fosse um parceiro abstracto desconhecido de mim, ou algo que se separa com um golpe de foice, Qual seara já seca, trigo mal amanhado, ou feno partido ao vento num campo deserto, entregue à rapinagem. O meu amanhã.... é feito de bolsos desfraldados Punhos embandeirados, Vermelhos de cobiça, Das liberdades que foram para o lixo.

Carnaval

Por entre facas e garfos E serpentinas de sereias, Voam bolas de sabão dançam entretidos palhaços Oiçam os cordas a chamar.... Há abraços a voar E braços a esbracejar, Pernas lentas a rebolar em beijos eternos gelados. Agora são flautas a sussurar... Cada voz perfila-se Mutila-se e suspende-se Qual multidão premente Prestes a silenciar a rebelião Tambores a marchar, a zumbar... Desfilam homens assexuados, Mulheres nuas na intimidade, Sem o espelho do preconceito Do público embriagado. Estalam copos e garrafas... Este é o Carnaval das gentes, a alegria utópica do povo, A soma de químicos e sorrisos, que disfarçam o quotidiano. As sombras dos fatos devolvem a noite ao céu...

Ruína

Somos prédios em ruína... De tinta maquilhada, quais jardins de poeira... colhidas pelas mãos duras de um pedreiro cansado... Somos prédios em ruína... Onde nem as fachadas caem, nem as portas se abrem E as janelas escondem A fraqueza dos alicerces. Somos prédios em ruína.... Alguém que nos construa, E nos ergua dos escombros. Pegue no entulho... E junte os pedaços num... Cuidado...Perigo de derrocada .