Skip to main content

Verità

não fales a verdade,
foge de ti e dos outros.

a verdade é como gelado frio nos dentes,
apetece lamber, mas escorre-nos pela boca,
enquanto levamos um estalo por olharmos
para uma mulher alta, montanha em saltos altos,
escadote directo à estrelas sem cauda,
última folha de árvores de cabelos soltos.

a verdade é descer as escadas
pelo corrimão,
pelo limbo da existência,
pela berma da estrada,
ser comandante em convés de fé,
e abandonar o barco,
apenas quando morrer tudo no que acreditamos.

a verdade é não saberes ler uma única palavra,
e creres que os murmúrios
do outro lado da parede,
não são mais que consoantes perdidas de amor,
vogais dadas à sedução,
e que depois de apagada a luz,
no silêncio entre vírgulas
jamais se conhecerão.


a verdade é sonhar em ter o mar no bolso,
onda após onda em maré alta
puxando-nos as pernas em maré baixa
decalcando-nos nas rochas
as ossadas da erosão ressequidas,
quais conchas de espuma, fosseis sem pérolas,
corpo sem calças onde guardar a verdade.


E nus, é fingir que não vemos,
o que não se vê mesmo,
e guardar na memória o que não sabemos
como objecto amado, meramente platónico,
virgem na nossa cegueira infantil.

A verdade, não a tem quem a compra,
não é mulher da rua, não é amante nocturna,
não tem seios de louvor, nem leito para todos,
mas dorme em qualquer cama, deita-se em qualquer chão,
mas só deixa entrar nela, quem realmente a ama.

a verdade não a digas,
deixa-a só para mim...

Comments

Popular posts from this blog

Quando morrem?

mata-se.. A sede bebendo. A fome comendo. A ignorância vivendo. A vida temendo. O amor querendo. A solidão existindo. um Homem isolando. A fé desligando. E as palavras quando morrem?

Sapatos

Ontem mandei meus sapatos Ao mar... Para ver se nele conseguia Andar... Mas qual foi a certeza Ao ver... Que sem eles eu me Afogava...

Azul Sincero

Glória aos dias de azul sincero. Daquele azul tão profundo que não nos mente Suspenso em pilares de verdade Onde mesmo as nuvens pinceladas Trazem vestido manto transparente Desnudando-lhe os ossos um por um. Glória a ti, azul simultâneo.