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Verità

não fales a verdade,
foge de ti e dos outros.

a verdade é como gelado frio nos dentes,
apetece lamber, mas escorre-nos pela boca,
enquanto levamos um estalo por olharmos
para uma mulher alta, montanha em saltos altos,
escadote directo à estrelas sem cauda,
última folha de árvores de cabelos soltos.

a verdade é descer as escadas
pelo corrimão,
pelo limbo da existência,
pela berma da estrada,
ser comandante em convés de fé,
e abandonar o barco,
apenas quando morrer tudo no que acreditamos.

a verdade é não saberes ler uma única palavra,
e creres que os murmúrios
do outro lado da parede,
não são mais que consoantes perdidas de amor,
vogais dadas à sedução,
e que depois de apagada a luz,
no silêncio entre vírgulas
jamais se conhecerão.


a verdade é sonhar em ter o mar no bolso,
onda após onda em maré alta
puxando-nos as pernas em maré baixa
decalcando-nos nas rochas
as ossadas da erosão ressequidas,
quais conchas de espuma, fosseis sem pérolas,
corpo sem calças onde guardar a verdade.


E nus, é fingir que não vemos,
o que não se vê mesmo,
e guardar na memória o que não sabemos
como objecto amado, meramente platónico,
virgem na nossa cegueira infantil.

A verdade, não a tem quem a compra,
não é mulher da rua, não é amante nocturna,
não tem seios de louvor, nem leito para todos,
mas dorme em qualquer cama, deita-se em qualquer chão,
mas só deixa entrar nela, quem realmente a ama.

a verdade não a digas,
deixa-a só para mim...

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Escrevo

Escrevo  porque não sei dizê-lo de outra maneira, porque acredito no belo e que as minhas palavras saem de mim em salto alto prontas para dançar, para em encherem o copo seduzirem, atirando frases feitas para a cama. até que nú... escrevem-se a elas prórpias no que não sei expressar sem ser com letras... E digo que escrevo e espero que me cresçam uns lábios carnudos no peito e seja saliva o que corre no coração. escrevo até ao dia em que já fale.

Quando morrem?

mata-se.. A sede bebendo. A fome comendo. A ignorância vivendo. A vida temendo. O amor querendo. A solidão existindo. um Homem isolando. A fé desligando. E as palavras quando morrem?

Pátria

O que nos une são apenas linhas, e uma língua que não morre, neste povo mais velho que a terra, Que Existe vai para além de Deus. O que nos une, não encontra definição, saudoso vai e vem das marés distantes. letargia de acreditar sem saber o porquê, ou remota crença de olhar e ver no nevoeiro. Aquela, esta pátria ainda não o é, está à espera de o ser, no ventre da mãe, mordendo a memória das palavras alimentando-se de páginas navegadas de pó. Não viveremos as horas suficientes de uma vida para ver arrancadas do peito as balas disparada contras os pés que conscientemente se alojaram na ideia de nação.