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Roupagem

Dobro as palavras sempre na gaveta de cima.
por ordem alfabética,
para de manhã não perder tempo
a escolher o que vou dizer nesse dia.

As palavras vestem-se sem esforço,
e uso-as por fora da boca, marginais,
evitando que se sintam amordaçadas
no cinto apertado dos dentes.

Nas ruas de hoje, pessoas passeiam-se
com palavras um número abaixo do seu corpo,
apertadas, asfixiadas, robóticas,
tentando planar sem rasgar o tecido das frases.

E essas revestem-se cada vez de menos tecido,
Expondo em demasia as fraquezas do corpo,
sofrendo o desbaste de nocturnas florestas ocas,
negras como madeira podre, queimadas em cinzas.

E pior que não haver palavras em árvores,
é só haverem as mesmas árvores,
o mesmo oxigénio rarefeito salivado,
a monotonia mental do vento que bate constante.

Imagino o dia em que andaremos nus de palavras,
pelo menos daquelas que nos soam mal,
que são botões maiores que as casas,
e que não cabem dentro de nós.

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Escrevo

Escrevo  porque não sei dizê-lo de outra maneira, porque acredito no belo e que as minhas palavras saem de mim em salto alto prontas para dançar, para em encherem o copo seduzirem, atirando frases feitas para a cama. até que nú... escrevem-se a elas prórpias no que não sei expressar sem ser com letras... E digo que escrevo e espero que me cresçam uns lábios carnudos no peito e seja saliva o que corre no coração. escrevo até ao dia em que já fale.

Quando morrem?

mata-se.. A sede bebendo. A fome comendo. A ignorância vivendo. A vida temendo. O amor querendo. A solidão existindo. um Homem isolando. A fé desligando. E as palavras quando morrem?

Pátria

O que nos une são apenas linhas, e uma língua que não morre, neste povo mais velho que a terra, Que Existe vai para além de Deus. O que nos une, não encontra definição, saudoso vai e vem das marés distantes. letargia de acreditar sem saber o porquê, ou remota crença de olhar e ver no nevoeiro. Aquela, esta pátria ainda não o é, está à espera de o ser, no ventre da mãe, mordendo a memória das palavras alimentando-se de páginas navegadas de pó. Não viveremos as horas suficientes de uma vida para ver arrancadas do peito as balas disparada contras os pés que conscientemente se alojaram na ideia de nação.