Hoje fazes parte na minha genealogia,
E daquilo que construímos por entre inundações,
Prego tortos nas paredes e cimento que se perdia na humidade pungente.
Nasceste virado para oeste do paraíso,
Trazido por costas unilaterais, sozinhas na mistura das horas,
Que em cada minuto anunciavam que irias crescer antes do tempo da gestação.
Pensei para mim, que flor se criará em solo tão árido,
Em semente tão pouco amada quando deitada no punhado,
De terra que nos serve de morada na hora da solene criação?
Podias ter sido cardo, erva ou giesta brava,
Tal era a dureza da enxada que te vergava o sorriso,
E que te impedia de perceber que eras mais que nada, eras amor.
E hoje que és mais que flor, uma árvore,
Que abrigas há sombras dos sobressaltos, antepassados e recentes transeuntes,
Sei que as tuas raízes se abraçam na certeza, de que o melhor dos ventos te soprou.
O teu fruto merece que sorrias,
Como quando ainda em caroço te adormecia,
Ao som da voz que me falta, sempre que nos tocamos costas com costas.
Dava a terra onde resisto,
Onde me vês com olhos infantis, a caminhar sobre água pisada,
Se nalgum fôlego te faltasse beijos para os lábios e mãos para me acenares adeus.
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Está fantástico!