não fales a verdade, foge de ti e dos outros. a verdade é como gelado frio nos dentes, apetece lamber, mas escorre-nos pela boca, enquanto levamos um estalo por olharmos para uma mulher alta, montanha em saltos altos, escadote directo à estrelas sem cauda, última folha de árvores de cabelos soltos. a verdade é descer as escadas pelo corrimão, pelo limbo da existência, pela berma da estrada, ser comandante em convés de fé, e abandonar o barco, apenas quando morrer tudo no que acreditamos. a verdade é não saberes ler uma única palavra, e creres que os murmúrios do outro lado da parede, não são mais que consoantes perdidas de amor, vogais dadas à sedução, e que depois de apagada a luz, no silêncio entre vírgulas jamais se conhecerão. a verdade é sonhar em ter o mar no bolso, onda após onda em maré alta puxando-nos as pernas em maré baixa decalcando-nos nas rochas as ossadas da erosão ressequidas, quais conchas de espuma, fosseis sem pérolas, corpo sem calças onde guardar a verdade. E nus,
Se minhas mãos fossem uma caneta, jamais secariam.